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Mariana de Castro

Mariana de Castro

 

Cartão de crédito ou caderneta?  A Venda da Light


 

Hoje em dia utilizamos os cartões de crédito/débito para pagar a maioria das nossas contas, o tão conhecido dinheiro de plástico hoje é quase que unanimidade no mundo todo, mas nem sempre foi bem assim e é sobre isso que gostaria de escrever.

Nos anos 60, minha mãe Natalina (Nata) trabalhava na venda do meu tio Toninho lá na Vila da Light em Itupararanga, pertinho de Votorantim, por lá ainda nem se imaginava ou pensava no cartão de crédito, quem reinava absoluta e comandava o poder de compra das pessoas era a famosa caderneta. Em outros lugares do mundo até existia cartões de crédito nesta data, mas a Vila da Light tinha seu modo próprio de vida e consumo.

O armazém Antonio de Castro – Secos & Molhados era mais do que um simples estabelecimento, era um ponto de encontro para os moradores e eventuais visitantes. Naquela época não existia shoppings, grandes hipermercados e todo este potencial comercial que vemos hoje, assim a loja de presentes, o supermercado, a praça de happy hour, o informativo geral da vila se concentrava ali.

Quando precisavam de informações sobre a vacinação ou a programação do cinema de quinta feira era lá que encontravam os avisos, sem contar da tradicional pescaria de quinta para sexta feira santa que também era programado ali.

 Durante o dia três horários com seus públicos distintos movimentavam a venda: logo cedo as donas de casa que iam buscar pães, sendo que muitas vezes moravam tão perto que iam de penhoar; mais tarde o pessoal do leite que iam se achegando e enquanto esperavam encher sua garrafa de vidro ou outro utensílio colocavam as conversas em dia e acredito que este pequeno momento de prosa fez a diferença na vida de muita gente; e nos finais de tarde depois de um dia honroso de trabalho seus freqüentadores lá apareciam para um pequeno “happy hour a moda laitense”, a cervejinha gelada com alguns petiscos que preparavam como: a lingüiça cozida no álcool feita na latinha de alumínio, o salame fatiado, o queijo cortadinho temperado com ervas e os sanduiches frios de mortadela, queijo e outros feitos especialmente pelo  meu tio Toninho que sempre foi um excelente anfitrião.

Cada garrafa de cerveja consumida era imediatamente reposta por outra, não tinha esse negócio que vemos hoje em dia de um pagar e outros querem tomar de graça... Poderia até ter, mas acredito que isso sim era a exceção.

Olhando para os anos passados a antiga venda já fazia sua contribuição para a história e também para a modernidade. É interessante constatar que graças a estes estabelecimentos que vendiam de tudo que surgiram os botequins. Segundo a história, no século passado os bares não eram tidos como lugares adequados para os “homens de família”, então os donos das vendas começaram a servir pequenos aperitivos junto com as bebidas e assim perdura até os dias de hoje e lá na vila não foi diferente.

E os amigos da minha mãe que sempre estavam por lá, era comum o Dan chegar com bolo que sua mãe tinha feito de presente e ficar para escutarem juntos os programas do Barros de Alencar, naquela época já escutava o rei do rock Elvis Presley brilhar com Kiss me Quick sempre em primeiro lugar. Também não posso esquecer-me das amigas que passaram por lá: A Nadir do Jaime, a Laura do Nelson, a Cida do Zinho e tantas outras pessoas maravilhosas e queridas que lá estiveram se sintam também homenageadas e lembradas neste momento.

O tempo passou e quando a foto da venda foi postada no blog do Tio Billy despertou as lembranças em mamãe e por isso que ouvindo suas histórias quis relatar este momento, apesar de eu não ter vivido me sinto privilegiada de saber que existiu um lugar como este e que nos anos de sua existência (1965-1975) o prazer de comprar estava acima de bens e sim na felicidade de um convívio social prazeroso de maneira simples e verdadeira. Nestes anos puderam acompanhar o governo trocando nossas moedas, receber as visitas que vinham nas casas dos laitenses, mas que muitas vezes eram recepcionados lá e sem contar os grandes acontecimentos.

Com certeza os fatos narrados acima poderiam ser confirmados pela figura lendária e querida do Sr. José Caetano que mesmo aposentado morava na vila, pois seu filho Miro continuou trabalhando lá e graças a isso tinha tempo para ir na venda. Marcando ponto em horário comercial, fizesse chuva ou sol, lá estava ele sentado no banquinho acompanhando tudo, apenas algumas pausas para seus cochilos rápidos e restauradores, afinal ninguém é de ferro né!

Então finalizo esta viagem através do túnel do tempo para a venda do Tio Toninho como um momento feliz e memorável. Sorte daqueles que tiveram o prazer de vivenciar este momento e deixo aqui minha singela homenagem à família do meu querido Tio Antonio de Castro proprietário da venda, a minha mãe Natalina de Castro que durante anos esteve trabalhando lá e todos os laitenses clientes e acima de tudo amigos.


(Escrito através de lembranças da minha mãe, Natalina de Castro e da tia Berenice, esposa do tio Toninho de Castro).